CORRELAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA E DEMÊNCIA, COM ÊNFASE NA DOENÇA DE ALZHEIMER: UMA BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Resumo
A demência é caracterizada por um declínio cognitivo, prejuízo na memória, linguagem, resolução de problemas e em outras áreas do domínio cognitivo que afetam a capacidade de uma pessoa de realizar atividades cotidianas com consequente comprometimento do funcionamento social1, mais especificamente, trata-se de um processo multifatorial, de natureza crônica e progressiva com importante impacto socioeconômico e que é considerada pela Organização Mundial da Saúde como uma prioridade de saúde pública2, além do mais, trata-se de uma condição que engloba doenças distintas com variados mecanismos fisiopatológicos. Deste modo, a Doença de Alzheimer (DA) é a forma mais comum de demência e é caracterizada por processo neurodegenerativo progressivo e irreversível que evolui para déficits cognitivos múltiplos com comprometimento da funcionalidade, perda da autonomia e reflexos negativos na qualidade de vida (QV)3, portanto, trata-se de uma patologia relacionada a idade e que atinge, predominantemente, idosos acima de 65 anos1.
O tratamento farmacológico e o manejo da demência são pontos de difícil execução devido à menor capacidade dos pacientes de adesão terapêutica, além dos efeitos adversos apresentados2, deste modo, crescente número de estudos vem evidenciando a eficácia de abordagens não farmacológicas associadas ao tratamento medicamentoso na melhora da qualidade de vida do idoso3. A prática regular de atividades físicas compreende um tipo de abordagem terapêutica não farmacológica útil na melhora da capacidade de realização de atividades da vida diária2, além do mais representa um método de atenuação do declínio cognitivo4. Em vista disso, o presente artigo tem como objetivo a análise da correlação entre atividades físicas e demência, com enfoque na doença de Alzheimer, a fim de reconhecer e evidenciar a importância da pratica de exercícios tanto para prevenção de doenças neurodegenerativas como para um melhor manejo do idoso com DA, apontando os benefícios da atividade física regular na melhora cognitiva e funcional do idoso.
METODOLOGIA
Este trabalho integra uma breve revisão da literatura, a qual foi realizada através da busca e seleção manual de revisões bibliográficas e estudos atuais que abordam o assunto. Utilizando as bases de dados do PubMed/Medline e SciELO, a pesquisa foi feita através do emprego dos termos “Demências”, “Atividades físicas e idosos”, “Prevenção da demência em idosos”, ‘’Atividades físicas e Alzheimer’’ e “Atividades físicas e demências da terceira idade”. No processo de inclusão dos textos, os artigos do tema apresentado publicados em português e inglês, foram analisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O exercício físico de intensidade moderada, a longo prazo, pode levar a mudanças significativas na saúde cerebral e no desempenho cognitivo; em 16 a 20 semanas há melhora da aptidão cardiorrespiratória e em 6 a 12 meses alterações cognitivas são detectadas, com efeitos potenciais na memória, atenção e função executiva5. Embora não seja claro qual tipo ou combinações de atividades físicas seja capaz de reduzir o risco ou atrasar o início da DA6, foi visto que, principalmente o exercício aeróbico esta correlacionado a menor perda de substância cinzenta e branca relacionada à idade, além de menos fatores neurotóxicos, preservando a integridade estrutural neuronal e o volume do cérebro7. Não obstante, a prática regular de atividades físicas, independente do tipo, é particularmente protetora contra esse tipo de demência6, sendo capaz de influenciar no distúrbio de agitação de pacientes com DA reduzindo de maneira significativa comportamentos de agitação, do mesmo modo, é capaz de melhorar a qualidade de sono por sua atuação no distúrbio do sono apresentado em alguns casos de DA, reduzindo a agitação durante o sono e aumentando a condição ‘’dormindo’, mantendo, desta maneira, o paciente mais calmo8. Além do mais, uma influência positiva na manutenção das funções cognitivas, agilidade e equilíbrio, com redução do risco de quedas em idosos com DA, foi visto em um programa de atividade física registrado por um estudo experimental em 20104.
A explicação neuroquímica dos mecanismos envolvidos na manutenção das funções cognitivas ainda é incerta, porém pode ser pontuada em três possíveis teorias: a) estimulação neurológica com alteração do metabolismo encefálico, sensibilidade aumentada à glicose, aumento da perfusão cerebrovascular e da plasticidade cerebral proporcionando aumento do fator neurotrófico de crescimento neural; b) consequente beneficio por redução da ansiedade e de sintomas depressivos; c) sinaptogênese e estimulação de redes neurais que agem em conjunto com alterações fisiológicas proporcionando melhora das síndromes físicas, cognitivas e comportamentais apresentadas na demência 4,5. Todos esses mecanismos culminam em melhora das funções cognitivas por proporcionarem efeitos neuroprotetores.
Em vista disso, a alta frequência de atividades físicas está associada a menor risco de comprometimento cognitivo e demência por modificação das dimensões metabólicas, estruturais e funcionais do cérebro, preservando a capacidade cognitiva em idosos5. Todavia, é necessário, como a maioria das abordagens terapêuticas, um tempo mínimo de execução para que seja possível constatar os efeitos benéficos4.
Vários estudos evidenciam a pratica de atividades físicas como uma opção não farmacológica de prevenção do declínio cognitivo, comportamental e funcional de idosos com DA4, ademais, possui importante papel na melhora do funcionamento executivo de pacientes com demência, aumentando a autonomia e reduzindo o risco de quedas, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desses pacientes9.
CONCLUSÃO
Embora não haja um consenso a respeito do tipo e combinações de exercícios físicos eficazes na prevenção ou melhora do desempenho cognitivo de pacientes com demência, foi esclarecido que a atividade física executada regularmente, a longo prazo, é capaz de preservar a capacidade funcional e mental de pacientes idosos, além de melhora diversas áreas neurais responsáveis pela capacidade cognitiva de pacientes com DA, melhorando o padrão de agitação, a qualidade do sono, aumentando a autonomia e o equilíbrio.
Deste modo, a atividade física se mostrou eficaz como abordagem não farmacológica no tratamento de pacientes com demência, especialmente DA, evidenciando sua importância não apenas para prevenção e tratamento de diversas patologias cardiovasculares, mas também para a manutenção da integridade neurofuncional, contribuindo para um envelhecimento saudável e proporcionando uma qualidade de vida produtiva.
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