COMPREENDENDO AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ATÍPICAS EM IDOSOS

Autores

  • Paula Andréa Sampaio de Vasconcelos Carvalho
  • Raquel Leal de Melo Medeiros
  • Ruth Ravena Luz Carvalho Sousa Cipriano
  • Álvaro Luiz Cutrim Costa Júnior

Resumo

INTRODUÇÃO: O envelhecimento é um processo que se configura como uma alteração e redução gradativa das funções de inúmeros órgãos e sistemas funcionais, que toma forma ao longo do tempo, não havendo um momento demarcador desta transição, podendo variar de um indivíduo para outro. Durante este processo, diversas alterações ocorrem no organismo, sendo estas fisiológicas e mecânicas. As comorbidades são mais frequentes no avançar da idade e, associado a isto, novas patologias devem ser cuidadosamente investigadas1. A clínica apresentada pelo paciente é fundamental para diagnóstico e conduta do médico. Porém, observa-se que o paciente geriátrico nem sempre apresenta a clínica assim como descrita em pacientes mais jovens. Por isso se faz tão fundamental a abordagem dos sintomas que podem ser apresentados pelo paciente geriátrico, principalmente na formação de médicos generalistas ao receberem no pronto socorro pacientes idosos. O fato de pacientes com idade avançada frequentemente sofrerem de polipatologias e/ou de suas complicações, e de estarem polimedicados exigem ainda mais cautela quanto ao estabelecimento de um diagnóstico da situação clínica bem como nas tomadas de decisões. O recurso a exames complementares de diagnóstico (por vezes aparentemente desnecessários) e a um maior tempo de permanência em observação são algumas das estratégias usadas pelos clínicos. O presente trabalho teve como objetivo o estudo bibliográfico listando algumas manifestações clínicas atípicas em pacientes idosos e suas implicações.

METODOLOGIA: A metodologia adotada foi uma Revisão Integrativa da Literatura, tendo como condução metodológica os seguintes passos: amostragem, classificação dos estudos, definição das informações selecionadas de publicações em periódicos relevantes, avaliação dos estudos extraídos e interpretação dos resultados da pesquisa. Para reunir material bibliográfico sobre o assunto, foram realizadas buscas nos seguintes bases de dados: Ciências da Saúde da América Latina e do Caribe Literatura (LILACS), Índice de Literatura Espanhola (IBECS), Análise de literatura médica e sistema de recuperação on-line (MEDLINE). Os critérios de inclusão foram os seguintes: artigos publicados a partir de 1990 a 2019.

RESULTADO E DISCUSSÃO: A literatura mostra que diversos sintomas clínicos em idosos podem ser sinais de doenças improváveis quando comparada com a clínica em adultos. Por isso houve um aumento significativo nas pesquisas e maior atenção no atendimento de emergência de pacientes idosos, sendo a dor abdominal a queixa mais comum em pacientes geriátricos. Os aspectos fisiológicos, farmacológicos e psicossociais exigem uma avaliação diferente da população em geral. Apenas 17% dos pacientes idosos com apendicite perfurada, por exemplo, apresentaram queixas "clássicas". Além disso, observou-se desconforto epigástrico sem dores no peito em 45% das mulheres acima de 75 anos com infarto agudo do miocárdio. Erupções cutâneas também podem estar relacionadas à dor abdominal, por isso a importância crucial em despir completamente os pacientes para o exame físico2. Tais manifestações incomuns podem ser explicadas pela atrofia da musculatura da parede abdominal, bem como alterações no funcionamento do nervo periférico, que levam a uma apresentação posterior e mais sutil da dor. Além disso, medicamentos comumente tomados em pacientes idosos, incluindo betabloqueadores, esteroides, anti- inflamatórios não esteroides medicamento (AINEs) e opiáceos, podem diminuir ou alterar sua resposta à doença. As medicações também podem implicar na capacidade de demonstrar febre ou taquicardia (resposta comum em pacientes mais jovens). Da mesma forma, alterações no funcionamento do sistema imunológico em pacientes idosos levam a uma maior suscetibilidade à infecção e a uma taxa menor de leucocitose nos resultados laboratoriais. Um estudo mostrou que 30% dos pacientes com idade superior a 80 com anormalidade intra-abdominal que requer cirurgia não apresentou febre nem leucocitose3. Febre é o cardeal manifestação de infecção, mas pode ser ausente em um número significativo de pacientes idosos infectados. A relevância clínica de uma resposta diminuída da febre é dupla: pois atrasa o diagnóstico e o início da terapia antimicrobiana, que podem influenciar adversamente os resultados clínicos, aumentando a gravidade e a incidência de complicações da infecção, incluindo morte4. Infecções no trato urinário são comuns na população geriátrica devido às mudanças fisiológicas desencadeadas por doenças crônicas, que consequentemente diminuem sua capacidade funcional. As manifestações clínicas da infecção urinária podem consistir em anorexia, prostração, letargia, adinamia, distúrbios da marcha, quedas e alterações do estado mental. Essas três últimas manifestações podem também refletir quadros de hiponatremia, uma vez que o sistema nervoso do paciente com idade avançada não é eficaz no estímulo da sede5.

CONCLUSÃO: O diagnóstico inicial do paciente geriátrico é fundamental para o sucesso do tratamento e redução das taxas de mortalidade. Assim, é de suma importância explorar as variações clínicas em idosos, de modo a promover um debate abalizado e científico para aperfeiçoamento do pronto atendimento destes.

Referências

revisão narrativa. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v. 17, n. 3, p. 673-680, 2014.

Magidson, P. D., Martinez, J. P. Martinez, J. P. Abdominal pain in the geriatric patient. Emergency Medicine Clinics, 34(3), p. 559-574. 2014.

Azeredo, Zaida. O idoso no serviço de urgência hospitalar. Azeredo, Zaida. O idoso no serviço de urgência hospitalar. Journal of Aging and Innovation 2.4, p. 20-26. 2014.

Norman, Dean C. Fever in the elderly. Clinical Infectious Diseases 31.1, p. 148-151, 2000. 5- FLORES-MIRELES, A. L.; WALKER, J. N.; CAPARON, M.; HULTREN, S. J. Urinary tract infections: epidemiology, mechanisms of infection and treatment options. Nature reviews microbiology, v. 13, n. 5, p. 269, 2015.

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Publicado

2021-04-07

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Artigos