CARACTERIZAÇÃO DOS ÓBITOS POR SUICÍDIO EM IDOSOS RESIDENTES EM GOIÁS

Autores

  • Lorenna Nogueira Pacheco
  • Júlia Alves Nascimento Rodrigues
  • Isabela Aniz Gomes de Oliveira
  • Gustavo Aguilar Alvarenga Amorim

Resumo

Introdução: Com o aumento da expectativa de vida no Brasil, transtornos que eram mais comumente encontrados em jovens também passaram a estar cada vez mais presentes na população idosa. Hoje, por exemplo, a depressão na terceira idade é considerada um problema de saúde pública relevante (1). O aumento da prevalência desse e outros transtornos psiquiátricos nessa faixa etária podem estar relacionados com o consequente aumento da taxa de suicídio dos idosos, que hoje já é o dobro de outras faixas etárias (2). O objetivo desse estudo, portanto, consiste em caracterizar os aspectos sociodemográficos dos óbitos por suicídio em idosos residentes em Goiás nos últimos 10 anos, permitindo a adoção de medidas mais específicas para a prevenção desses óbitos potencialmente evitáveis.

Metodologia: Estudo ecológico realizado a partir da base de dados DATASUS durante o período de 2009 a 2018. Foram analisadas as variáveis: idade, sexo, cor, escolaridade, estado civil e local dos óbitos por lesões autoprovocadas voluntariamente (CID X60-X84) por residentes em Goiás com 60 anos ou mais.

Resultados/discussão: Nos últimos 10 anos ocorreram ao todo 670 mortes por lesões autoprovocadas voluntariamente entre os idosos residentes em Goiás. Dentro desse período, houve um aumento de 216% no número de suicídios nesse grupo (38 óbitos em 2009 para 82 em 2018). Taxa que pode ser considerada bastante alarmante quando comparada com o aumento nacional de suicídios em idosos que foi de 165% no mesmo período. Esse aumento expressivo, tanto local quanto nacional, pode estar relacionado ao aumento da expectativa de vida que ocasiona perdas físicas, econômicas e convivência com doenças crônicas e incapacitantes; podendo levar ao desenvolvimento do sentimento de menos valia (3). Condizendo com a literatura nacional (4), percebeu-se uma prevalência do sexo masculino na proporção de aproximadamente

5 óbitos masculinos para cada óbito feminino. Em relação a faixa etária, 50,1% pertenciam ao grupo 60-69 anos, ao contrário da literatura nacional que mostra predominância nos idosos >70 anos (5). Analisando a cor declarada nos atestados de óbitos, a maioria eram brancos (50,3%) ou pardos (44,2%). Dentre aqueles em que a escolaridade foi registrada, 63,6% possuíam 3 anos ou menos de escolaridade; o que permite inferir que a escolaridade seria um valioso fator de proteção para se evitar o suicídio em idosos. Observando o estado civil, 50,2% eram casados; o que diverge dos estudos que consideram a união estável como um fator de proteção contra o suicídio (6). 63% das mortes ocorreram no próprio domicílio, sendo as lesões autoprovocadas intencionalmente por enforcamento, estrangulamento e sufocamento (CID 10 X70), a principal causa básica do óbito (59%). Diferente dos dados nacionais em que a segunda principal causa básica do óbito é lesão autoprovocada intencionalmente por disparo de arma de fogo (X74); em Goiás, o segundo lugar (11%) é ocupado por autointoxicação com inseticidas e/ou pesticidas (X68); o que pode estar vinculado ao fato da agropecuária ser uma das principais atividades econômicas do estado, facilitando o contato dos idosos a esses produtos. Com base nesses dados, é nítido que medidas devem ser tomadas para desacelerar o número de suicídios entre idosos em Goiás. Entre as medidas mais efetivas citadas na literatura para a prevenção desse ato estão: conscientização a partir da discussão e debate, inclusive em veículos midiáticos, acerca da temática; incentivo a realização e disponibilização de psicoterapia; melhor preparo biopsicossocial das redes de atenção à saúde para o idoso; reformulação da Política Nacional de Saúde Mental com abordagem específica para essa questão; criação de iniciativas nacionais e regionais para redução de acesso aos métodos letais, como recomenda a OMS (Organização Mundial da Saúde); estimular a formação de redes de apoio tanto religiosa, quanto social e familiar, e a reconstituição da autonomia nas consultas, tratamento das doenças orgânicas e psiquiátrica de base, caso estejam presentes (7).

Conclusão: Houve um aumento no número de suicídios entre os idosos residentes em Goiás nos últimos 10 anos; sendo mais frequentes no sexo masculino, idade entre 60-69 anos, cor branca, baixa escolaridade e casados. O principal local de óbito foi o próprio domicílio e a principal causa básica lesões autoprovocadas intencionalmente por enforcamento, estrangulamento e sufocamento. Ações preventivas voltadas especificamente para essa faixa etária devem ser desenvolvidas e implementadas no estado o quanto antes.

Referências

DUARTE, B.L.C. et al. Análise dos fatores que acarretam depressão na terceira idade. ACTA de estudos interdisciplinares

MMWR. Morbidity and mortality weekly report, v. 66, n. 10, p. 270, 2017; 2.

FERRO, L.F. et al. Saúde mental do idoso: reflexões sobre a prevenção do suicídio e o trabalho em rede. Revista Extensão em Foco, n°20, p.01-17, Jan/Jul 2020.

PINTO, L. W. et al. Mortalidade por suicídio em pessoas com 60 anos ou mais nos municípios brasileiros no período de 1996 a 2007. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 8, p. 1963-1972, Ago. 2012.

LOVISI, G. M. et al. Análise epidemiológica do suicídio no Brasil entre 1980 e 2006. Rev Bras Psiquiatr. São Paulo, v. 31, Supl. 2, p. S86-S93, Out. 2009

Sacco, R.C.C.S., et al. Caracterização dos óbitos por suicídio em idosos no distrito federal, Brasil, no período de 2007 a 2016. Saúde Mental: um Campo em Construção, capítulo 6, jan 2019

SANTOS, E.D.G.M., et al. Suicídio entre idosos no Brasil: uma revisão de literatura dos últimos 10 anos. Psicología, Conocimiento y Sociedad, n°9, p. 258-282, mayo-octubre 2019

Downloads

Publicado

2021-04-07

Edição

Seção

Artigos