AVÓS PADRASTOS E SUA RELAÇÃO COM NETOS ENTEADOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Autores

  • Bárbara Vieira Sardi
  • Gabriela Araujo Moreira
  • João Victor Brincas Ramos
  • Livia Sissi Gonçalves Souza Piechnik

Resumo

Introdução: Os vínculos e as relações familiares influenciam a saúde e o bem-estar psicológicos dos indivíduos de uma mesma família ao longo do tempo1. O aumento gradual da expectativa de vida associado ao número crescente de divórcios e segundos casamentos tornam mais frequente a presença do vínculo entre avós padrastos e netos enteados na infância e na vida adulta2. A presente revisão integrativa objetiva reunir os estudos disponíveis na literatura que investigam como essas relações se desenvolvem entre os indivíduos. Os objetivos secundários são as distinções entre o impacto do gênero dos avós não biológicos nas relações com seus netos, além do estabelecimento de diferenças entre relacionamentos recentes e aqueles mais duradouros.

Metodologia: Foi realizada revisão integrativa a partir de artigos indexados no PUBMED e Scielo entre 2015 e 2020. Foram utilizadas as palavras-chave na língua inglesa “stepgrandparents”, “relationship” ou similares e incluídos estudos observacionais, sendo excluídas revisões, guidelines e relatos de caso de quaisquer tipos.

Resultados e Discussão: Foram encontrados cinco trabalhos que se adequavam às especificações, todos transversais e observacionais. O maior deles, com 4.116 indivíduos, cujos dados foram coletados de estudos de Coorte nos Estados Unidos desde 1968, concluiu que a prevalência de avós padrastos têm aumentado com o passar dos anos, associando-se positivamente a indivíduos não-brancos e com menor grau de escolaridade, e atingindo taxas de 15% entre pessoas de 65 anos ou mais3. Outro estudo com entrevistas a 29 netos enteados também percebeu aumento desse tipo de relação atualmente, encontrando benefícios psicossociais àqueles que mantiveram relações próximas com seus avós não biológicos4. Já estudo com 341 entrevistas com famílias cujos netos enteados eram menores de cinco anos encontrou diferenças entre os gêneros: madrastas avós apresentaram menos cuidado aos netos, emocional e financeiramente, do que as biológicas; padrastos avôs, por outro lado, ofereceram mais apoio emocional aos netos enteados do que os avôs biológicos. Eles também apresentaram relação mais próxima às crianças em comparação às avós madrastas5. Esse aparente afastamento feminino é corroborado por pesquisa feita com 18 madrastas avós, que refletiu sobre as dificuldades para estabelecimento do papel dessas mulheres nas novas famílias, tentando adequar-se conforme o molde pré-estabelecido pelos outros membros6. Por fim, estudo com 76 netos enteados diferenciou as relações quanto ao tempo de relacionamento e concluiu que avós padrastos de longa data são mais frequentemente incluídos na família, com relações mais próximas às vistas entre netos e avós biológicos se comparados a avós padrastos de um relacionamento recente7.

Conclusão: Estudos sobre as relações entre avós padrastos e netos enteados são escassos ainda hoje, porém é encontrada na literatura uma tendência de aumento desse tipo de vínculo. Afastamento emocional e financeiro é observado principalmente nas avós madrastas, com dificuldades de adequação à nova família. Por outro lado, avôs padrastos demonstram relações mais próximas com netos enteados em comparação a avós madrastas e também aos avôs biológicos, com benefícios psicossociais aos envolvido, vistos principalmente em relacionamentos de longa data. Isso demonstra diferenças na consolidação dos vínculos no novo modelo familiar, com impacto direto no desenvolvimento dos indivíduos. Pesquisas longitudinais são fundamentais para acompanhar e analisar estas relações e, assim, inferir como elas interferem nas diferentes gerações.

Referências

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Publicado

2021-04-07

Edição

Seção

Artigos