A IMUNIZAÇÃO CONTRA INFLUENZA EM IDOSOS BRASILEIROS: AVANÇOS E DESAFIOS

Autores

  • Jéssica Moreira Fernandes
  • Letícia Aparecida de Souza Silva
  • Maria Paula Bernardo dos Santos
  • Lucila Bistaffa de Paula

Resumo

Introdução: O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial composto de diversas modificações fisiológicas ligadas ao envelhecimento, onde as doenças do sistema imunológico se destacam devido à vulnerabilidade dos idosos a adquirirem enfermidades infecciosas, já que eles fazem parte do grupo de risco por possuírem menor resposta imunológica aos microorganismos agressores devido à idade (LINO; MEDEIROS, 2018). A influenza se destaca entre as doenças que mais provocam óbitos, com elevada transmissibilidade (BRASIL, 2020). Verifica-se que o vírus da influenza é um dos principais responsáveis pelas infecções respiratórias agudas, atingindo principalmente crianças, gestantes e idosos. Suas diversas complicações são responsáveis pelo aumento do risco de morbimortalidade nos grupos vulneráveis (DAUFENBACH et al., 2014). Nessa linha, para que a prevenção desse agravo seja efetiva, é necessária vigilância qualificada e vacinação, que é uma das intervenções mais seguras e custo-efetivas. Em 1999, a campanha de vacinação contra a Influenza foi estendida aos maiores de 60 anos, com o propósito de reduzir internações, complicações e mortes nesta faixa etária (BRASIL, 2019). Nesse contexto, a manutenção de altas coberturas vacinais é indispensável para uma efetiva proteção da população, principalmente dos grupos mais susceptíveis, visto que, coberturas vacinais elevadas e homogêneas nos diferentes estados constituem um bom indicador de saúde pública. Metodologia: Trata-se de um estudo quantitativo, de caráter exploratório e descritivo, onde foram coletados dados nos Informes Técnicos sobre as Campanhas de Influenza do Ministério da Saúde, dos anos de 2019 e 2020, selecionando-se apenas a população idosa por unidades da federação. Resultados e Discussão: Verificam-se grandes avanços no que se refere à taxa de cobertura vacinal em idosos nas diversas regiões Brasileiras, visto que as taxas de cobertura vacinal nesta população só cresceram nos últimos anos. O bom desempenho da vacinação possibilitou elevar a meta de cobertura vacinal estabelecida em 70% até 2007, para 80% a partir do ano de 2008 e para 90% a partir de 2017. Em 2018, os estados de Roraima e Rio de Janeiro infelizmente não alcançaram a meta, fechando as coberturas com 89,2% e 82,9%, respectivamente. O Brasil fechou o ano de 2018 com a cobertura vacinal contra influenza em idosos de 97,2%. Alcançar a meta de 90%, que antes era uma dificuldade até 2018, tornou-se realidade para todas as unidades da federação a partir de 2019. As unidades mais bem sucedidas em 2019 no quesito cobertura vacinal de influenza em idosos foram o Distrito Federal, com uma cobertura de 122,35%, Espírito Santo, com 109,66% e Roraima com 108,52%. No ano de 2019, a cobertura nacional contra a influenza em idosos subiu para 99,39%. Quanto à estimativa populacional para a campanha Nacional de vacinação contra a Influenza em 2020, espera-se que

20.890.049 idosos sejam vacinados, sendo 1.110.240 da região Norte, 5.531.289 no Nordeste,

9.659.516 no Sudeste, 3.322.397 no Sul e 1.266.607 na região Centro-Oeste. A ampla cobertura vacinal contra a influenza em idosos se deu pela melhor adesão desta população à vacinação, que nos anos anteriores, ainda apresentava algum tipo de resistência, e devido à reorganização das Unidades Básicas de Saúde (UBS) para a vacinação de idosos acamados em suas residências e/ou mantidos em Instituições de Longa Permanência. Assim, todos os idosos acamados e residentes em ILPI pertencentes às áreas abrangidas pelas equipes de Saúde são contabilizados e registrados previamente a realização da campanha vacinal. De fato, isso favoreceu o aumento da cobertura, e o que antes era apenas uma iniciativa de alguns municípios e estados, tornou-se obrigatório, principalmente depois do início da epidemia de Covid-19 no país, já que o Ministério da Saúde, com o objetivo de reduzir o risco de transmissão do vírus, emitiu uma nota que traz entre as suas recomendações, que a vacinação contra a Influenza deve ser realizada extramuros, em locais de convivência social (centro de idosos, igrejas, etc.), além da vacinação domiciliar, especialmente para aqueles que estão acamados ou que possuem dificuldade de locomoção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Vale salientar que anteriormente, a preocupação era apenas ampliar os pontos de acesso para que os idosos fossem até o serviço, mas não se pensava no serviço ir até os idosos, poupando-os de deslocamentos muitas vezes dolorosos e desnecessários. Entre os idosos ativos, restam poucos que ainda não aderiram a essa prática no país, acreditando que a vacinação não é importante. Vale rememorar que os mitos maléficos sobre a imunização haviam ganhado força na última década devido à precariedade de informação. Pesquisas ainda revelam que os idosos resistentes à vacinação justificam-se afirmando que a mesma provoca reação, que a gripe é uma doença banal, que não irão ficar doentes, ou que a vacina é importante, mas para aqueles que já estão gripados, pois acreditam, por falta de orientação, que a imunização é um meio curativo e não uma ação preventiva. Além disso, o medo de eventos adversos e a desconfiança quanto à eficácia da vacina ainda são citados (LINO, MEDEIROS, 2018). Sabe-se que o medo é um sentimento natural dos seres humanos, mas que pode ser amenizado se o profissional de saúde, utilizando-se de seus conhecimentos técnicos e científicos, destacar a importância e os benefícios da vacinação. No entanto, percebe-se desconhecimento acerca da vacina até mesmo entre os idosos vacinados, já que em diversas pesquisas, a maioria dos idosos alegou desconhecer a importância da vacinação e proporção considerável referiu não acreditar na sua eficácia (RODRIGUES et al., 2017). Nesse contexto, com o esclarecimento da população idosa, muitos mitos seriam desmistificados, já que as vacinas de influenza disponíveis no Brasil são todas inativadas (de vírus mortos), portanto sem capacidade de causar doença, os eventos adversos mais frequentes, dor e vermelhidão, ocorrem apenas no local da aplicação e o endurecimento local é esperado em 15% a 20% dos vacinados. Além disso, essas reações costumam ser leves e desaparecem em até 48 horas. Ressalta-se que manifestações sistêmicas são raras, benignas e breves e a febre, mal estar e dor muscular acometem de 1% a 2% dos vacinados, de 6 a 12 horas após a vacinação e persistem por 1 a 2 dias, sendo mais comuns na primeira vez em que recebem a vacina. Outrossim, as reações anafiláticas são extremamente raras (BRASIL, 2020). Conclusão: O aumento da expectativa de vida e a consequente mudança na pirâmide etária brasileira tornou iminente a necessidade de ações que visem à qualidade de vida e saúde da pessoa idosa. Os resultados deste estudo revelam grandes avanços na cobertura vacinal contra a influenza em idosos nos últimos anos, mas apontam para a necessidade de esclarecimento da população idosa sobre as vantagens da vacinação contra a influenza, bem como a sua efetividade e baixa incidência de eventos adversos. Para que a vacinação seja amplamente difundida entre os idosos, verifica-se que a orientação no momento da vacinação pode permitir que estes adquiram e divulguem conhecimentos incentivadores. No que tange a divulgação de conhecimento, ações educativas podem ser realizadas pelas equipes de saúde multiprofissionais pertencentes às UBS, que possuem contato direto com o público idoso, que por vezes procura a assistência à saúde por outros motivos nessas unidades, que são porta de entrada do SUS (Sistema Único de Saúde). Cumpre-nos assinalar que as campanhas de vacinação incentivadas pelo Ministério da Saúde e divulgadas a comunidade pelas mídias e serviços de saúde, devem enaltecer os benefícios da vacinação a partir dos 60 anos de idade e esclarecer sobre os possíveis eventos adversos, para ampliar a cobertura vacinal a 100% nos próximos anos. Faz-se necessário que os profissionais de saúde se atentem a esses dados, fomentem diálogos que identifiquem possíveis fragilidades no conhecimento acerca da imunização e propiciem atividades que envolvam a população idosa, tornando-se educadores em saúde para garantir prevenção, através da vacinação e contribuir, dessa forma, para um envelhecimento digno e saudável.

Referências

LINO, G. G.; MEDEIROS, L. B. Motivos que levam os idosos à recusa das vacinas: uma revisão integrativa. Trabalho de conclusão de curso de graduação. Centro Universitário São Lucas. Porto Velho, 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações. Informe Técnico da 22ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza. Brasília: Ministério da Saúde, 2020.

DAUFENBACH, L. Z.; DUARTE, E. C.; CARMO, E. H.; CAMPAGNA, A. S.; SANTOS C. A. S. T. The Impact of vaccination on influenza-related hospitalizations of the elderly in Brazil Epidemiol. Serv. Saúde, v. 23, n. 1, p. 9-14, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações. Informe Técnico da 21ª Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza. Brasília: Ministério da Saúde, 2019.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações. Coronavírus e Campanha de vacinação contra Influenza e estratégia de vacinação contra o sarampo na Atenção Primária, 2020.

RODRIGUES, B. B.; TIAGO, D. C.; ALVARENGA, L. C. R.; MEDEIROS, L. M. M.; LOPES, N. R. Fatores associados à vacinação anti-influenza e anti-pneumocócica em idosos. Trabalho de conclusão de curso de graduação. Centro Universitário de Anápolis. Anápolis - Goiás, 2017.

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Publicado

2021-03-08

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Artigos