INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM IDOSOS: O DESAFIO MÉDICO NA PRESCRIÇÃO EM PACIENTES POLIFARMÁCIA
Resumo
INTRODUÇÃO: Estatísticas sociais demonstram aumento da expectativa de vida dos brasileiros nos últimos anos. Estudos demográficos das Tábuas Completas de Mortalidade, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), evidenciaram melhora nesses dados desde 2003, em que a expectativa de vida era de 71,3 anos¹, evoluindo para 74,9 anos em levantamento de 2010² e, em 2018, pesquisa mais recente, os resultados denotaram aumento da média para 76,3 anos.³ Apesar desta melhora estatística, há predomínio de hábitos deletérios como sedentarismo, alimentação inadequada, etilismo e tabagismo, que contribuem para o aumento da incidência e prevalência de doenças e agravos não transmissíveis. Concomitantemente, os avanços da indústria farmacêutica possibilitam novas alternativas para as demandas de saúde da população em envelhecimento, com consequente aumento das prescrições e da polifarmácia, resultando em reações adversas de grande impacto no tratamento: as interações medicamentosas.⁴ Estas caracterizam-se como um evento clínico que pode ser desejável, com potencialização ou aumento da eficácia; ou não desejável, com aumento da toxicidade, diminuição do efeito esperado ou idiossincrasia.⁴ Isto posto, esta revisão tem como objetivo a discussão das possíveis interações medicamentosas, a fim de aprimorar o conhecimento médico acerca da complexidade dos pacientes polifarmácia, visando a promoção, por meio de apoio estruturado e uniformizado em forma de cartilha, para prescrição mais consciente, reduzindo efeitos indesejados em idosos. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão de literatura, com base em estudos originais, trials e revisões, com ou sem sistematização, publicados entre os anos de 2015 e 2020, em inglês e português. A busca se deu nas bases de dados Medline e SciELO, valendo-se dos descritores “Drug-Drug Interactions”, “Elderly” e “Polypharmacy”, resultando em 380 artigos na base Medline e 15 artigos na base SciELO, dos quais foram selecionados 6 da primeira base e 9 da segunda, por se adequarem aos requisitos e por serem relevantes para a análise e a discussão. Dados estatísticos do IBGE também foram incluídos na construção desta revisão. RESULTADOS E DISCUSSÕES: O conceito de polifarmácia, apesar de controverso, é amplamente discutido. Considera-se como o uso de pelo menos uma medicação não necessária ou o uso de cinco ou mais medicações simultaneamente. ⁵ De 25 a 50% dos pacientes com 75 anos ou mais podem ser enquadrados nesta definição.⁶ Uma das variáveis que reforça a problemática é o desenvolvimento contínuo e cada vez mais avançado de fármacos, acarretando em prescrições e combinações mais complexas em sincronia com o envelhecimento populacional, o que dificulta o reconhecimento de efeitos adversos e possíveis interações medicamentosas.⁴ Nestas, os efeitos e/ou a toxicidade dos fármacos são possivelmente potencializados ou reduzidos na presença de alimentos, bebidas, agentes químicos ambientais ou outros medicamentos, inclusive, fitoterápicos.⁷ Consoante a isso, os idosos manifestam alterações fisiológicas típicas da senescência, especialmente relacionadas ao trato gastrointestinal, como a alteração no pH e na motilidade gástrica, junto a diminuição em até 30% da massa e do fluxo sanguíneo hepático.⁸ Estes fatores justificam a atenção redobrada para que essa população seja tratada de acordo com suas individualidades, uma vez que não apenas essas mudanças influenciam diretamente na eficácia e metabolização das medicações⁸, como também há de se considerar os efeitos bioquímicos antagônicos entre certas classes farmacológicas.⁹ Considera-se, ainda, que os idosos necessitam de atenção especial no que tange a dificuldade de verbalizar suas dores e sintomas que as interações farmacológicas podem vir a causar, devido a presença de demência e/ou múltiplas comorbidades, as quais contribuem para mascarar sinais de significância clínica, dificultando intervenções terapêuticas pertinentes.¹º CONCLUSÃO: À vista disso, evidencia-se o quão desafiador é o reconhecimento de sinais e sintomas de interações medicamentosas em idosos, bem como a prescrição individual, atentando- se à polifarmácia. Deste modo, sugere-se elaboração de cartilha simples e exequível contendo os principais fármacos utilizados neste intervalo etático e suas interações, de modo a auxiliar o médico na escolha e associação de medicamentos. Ademais, é imprescindível a orientação ao paciente e familiares da forma correta de ingestão destes, tendo em vista a dificuldade no reconhecimento de possíveis interações medicamentosas e repercussões clínicas indesejadas em idosos, população que, devido à particularidades típicas da senescência, caracterizam desafios em prescrições seguras.
Referências
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<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de- noticias/releases/12863-asi-em-2003-expectativa-de-vida-do-brasileiro-subiu-para-713-anos>. Acesso em 20 jul. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Em 2013, a esperança de vida ao nascer era de 73,48 anos. Agência IBGE. 01. dez. 2011. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de- noticias/releases/12863-asi-em-2003-expectativa-de-vida-do-brasileiro-subiu-para-713-anos>. Acesso em 20 jul. 2020.
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